Escolha uma Página

Este texto surge de um incômodo em relação a uma reportagem que li sobre a terapia online. A crítica afirmava que a terapia online é indicada apenas para acompanhamentos e não para tratamentos. Ontem, ao ler um artigo recém-publicado de Gonçalves e Ferreira Neto, resolvi escrever algumas considerações a respeito.

Quando falamos de terapia online no Brasil, não estamos tratando de algo recente. A primeira regulamentação desses atendimentos começou nos anos 2000. Os primeiros registros de atendimento a distância na psicologia remontam à utilização do telefone para fins terapêuticos. A terapia por telefone começou a ser utilizada nos anos 1960 e 1970, especialmente nos Estados Unidos, como uma forma de superar as barreiras geográficas e aumentar o acesso aos serviços de saúde mental.

Com o advento da internet e o desenvolvimento de tecnologias de comunicação mais avançadas nas décadas de 1990 e 2000, a terapia a distância passou a incluir videoconferências, e-mails, chats e outras ferramentas online. Além de ser uma opção mais acessível e flexível para pacientes com mobilidade reduzida, que vivem em áreas remotas ou fora do país, a terapia online permite maior liberdade de horários e a possibilidade de realizar sessões em diversos ambientes, como a própria casa ou qualquer espaço que possa se manter o sigilo necessário para uma sessão de psicoterapia.

No entanto, a terapia online também apresenta desafios, como questões de privacidade e segurança dos dados dos pacientes, possibilidade de problemas técnicos e a necessidade de adaptação às diferenças na comunicação não verbal e à dinâmica virtual. Para lidar com esses desafios, é importante que tanto pacientes quanto profissionais escolham plataformas seguras e confiáveis, verifiquem a qualidade da conexão à internet e do equipamento antes das sessões e preparem um ambiente tranquilo e livre de distrações.

A terapia presencial também enfrenta diversos desafios, como o acesso limitado em áreas rurais ou remotas, onde a disponibilidade de profissionais pode ser escassa. Além disso, o estigma social em torno da busca de ajuda para problemas de saúde mental ainda existe, levando algumas pessoas a hesitar em procurar terapia presencial. O tempo de deslocamento para sessões presenciais também pode ser um desafio, especialmente se a localização do consultório exigir viagens longas e cansativas. Dependendo do local de residência e trabalho do paciente, o tempo gasto no trânsito pode se tornar um obstáculo significativo para aderir às sessões de terapia.

A resolução 11/2018, que regulamenta os atendimentos online, indica que é inadequado o uso de TICs em situações de emergência, por se tratar de um tipo de atendimento que requer uma rede próxima à pessoa para o manejo da crise. Essa mesma resolução veda o atendimento online em situações de desastres e casos de violação dos direitos ou de violência, também por considerar a importância de uma rede de apoio e assistência localmente, de forma a garantir a proteção daquela pessoa.

“o psicólogo, ao estar presente seja por telefone ou em alguma plataforma digital, vivencia um espaço de experiência compartilhada que é criada e se passa no decorrer da comunicação virtual, fora do setting do consultório físico e tradicional” (p. 12).

Dentro desse cenário, a terapia online se estabelece como um instrumento valioso no campo profissional e no alívio do sofrimento, funcionando como um ambiente de compreensão e suporte frente aos desafios psicossociais e aos obstáculos persistentes em uma nação caracterizada por desigualdade e violência, como o Brasil.

Defendo a ideia de que não devemos estabelecer uma hierarquia entre a terapia presencial e a terapia online, já que ambas oferecem valiosas oportunidades terapêuticas. A escolha entre as modalidades deve ser baseada nas preferências e necessidades individuais do profissional e do paciente.

As (os) psicólogas (os) devem avaliar qual das modalidades (ou a combinação delas) melhor se alinha às suas perspectivas teóricas e abordagens pessoais, garantindo assim a condução de um trabalho ético e coerente.

Já os pacientes, clientes ou analisandos devem considerar qual opção, naquele momento específico, atende melhor às suas necessidades e expectativas, permitindo uma experiência terapêutica mais proveitosa e benéfica.

Referências

Barak, A., Hen, L., Boniel-Nissim, M., & Shapira, N. (2008). A comprehensive review and a meta-analysis of the effectiveness of internet-based psychotherapeutic interventions. Journal of Technology in Human Services, 26(2-4), 109-160. https://doi.org/10.1080/15228830802094429

Conselho Federal de Psicologia. (2018). RESOLUÇÃO CFP 11/2018 COMENTADA.
https://e-psi.cfp.org.br/wp-content/uploads/2018/11/Resolu%C3%A7%C3%A3o-Comentada-Documento-Final.pdf

Gonçalves, C. M., & Ferreira Neto, J. L. (2023). O ATENDIMENTO PSICOLÓGICO ON-LINE: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA. REVISTA FOCO, 16(5), e1723. https://doi.org/10.54751/revistafoco.v16n5-001

Imagem:

Mohamed Hassan por Pixabay: https://pixabay.com/pt/vectors/videoconfer%c3%aancia-e-learning-2766604

#psicologia #terapia #terapiaonline #terapiapresencial

Como posso te ajudar?